segunda-feira, 24 de março de 2008

Virose

De bem com o verão
Sol, mar e piscina trazem diversão, mas também doenças e perigos para as crianças, ainda mais em tempos de aquecimento global e camada de ozônio esburacada. Preparamos um guia de sobrevivência para você evitar o que dá para evitar e saber lidar com os problemas quando eles aparecerem. Boas férias!

POR CÍNTIA MARCUCCI, FILHA DE MARIZA E EMILIANO

Bruno não sai de casa sem levar uma garrafinha com água, ainda mais se o dia estiver muito quente. O hábito saudável ele aprendeu com a mãe, a matemática Marcela de Souza, depois de um pânico que os dois passaram quando o garoto tinha 3 anos.
Era verão, e a família estava num cruzeiro pela costa brasileira. Na volta para o navio, depois da parada em Búzios (RJ), uma cidade de clima considerado seco, Bruno começou a se sentir mal, vomitar e rejeitar comida. "Faltavam apenas dois dias para voltarmos à terra firme e decidimos esperar para ver se não era um malestar passageiro", conta Marcela.
Ao chegar ao pronto-socorro de Santos (SP), o susto: o diagnóstico foi de desidratação de grau dois. Bruno precisou passar um dia inteiro recebendo soro pela veia. "Depois disso, fiquei tão apavorada que nunca mais saí de casa sem levar garrafinhas de água", conta a mãe.
A desidratação é um dos problemas que mais causam atendimentos médicos de crianças durante o verão. Quanto mais quente, pior. "Em geral o problema começa com uma intoxicação alimentar, que causa vômitos ou diarréias, e até mesmo com a exposição exagerada ao sol sem a ingestão devida de líquidos", explica o pediatra e nutrólogo do Hospital das Clínicas de São Paulo, Miguel Adolfo Tabacow, pai de Fábio, Paulo, Vitor, Luiz e Guilherme. Em 2005, mais de 28 mil crianças de 0 a 5 anos foram internadas no SUS (Sistema Único de Saúde) por desidratação causada pela diarréia.
Além do sol e dos alimentos e da água contaminados, outra causa de diarréias são as viroses. Quem tem filho pequeno acaba sendo apresentado ao famoso rotavírus. Até os 5 anos, toda criança é contaminada por pelo menos um tipo desse vírus. Os casos não aumentam no verão, mas podem gerar confusão agora, já que os sintomas são parecidos com os de uma intoxicação alimentar.
A gente se assusta mesmo, porque o rotavírus faz com que a criança emagreça significativamente, já que os vômitos e a diarréia são acompanhados de falta de apetite.
Felizmente, dá para prevenir. "O problema pode ser resolvido com algumas gotinhas da vacina em qualquer posto público de saúde", orienta a pediatra Isabella Ballalai, mãe de Nicole e Philippe, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM). Dados do Ministério da Saúde apontam que, após um ano do uso da vacina contra o rotavírus (entre fevereiro de 2006 e fevereiro de 2007), os casos de internação por doenças diarréicas em crianças de menos de um ano diminuíram cerca de 29%
Na pele
Na outra ponta das histórias de verão estão os problemas de pele: micoses, brotoejas e, principalmente, queimaduras de sol. Com o buraco na camada de ozônio, que funciona como uma proteção invisível, tem aumentado a radiação sobre a Terra, aumentando os riscos. É, tem de ficar esperto mesmo, nada de bobear.
O importante é prevenir a todo custo. Um único episódio de pele vermelha ou bolha até os 20 anos já é o suficiente para seu filho entrar no grupo de risco para câncer de pele. Ou seja: não pode descuidar. Nessa fase, a responsa é sua total. Uma boa é usar protetores coloridos para ter certeza de que cobriu todo o corpo. O calor e a umidade, por outro lado, fazem um ambiente perfeito para a proliferação de fungos, causadores das micoses. Já o suor intenso é o responsável pelas brotoejas.
Aqui, o lance é tomar cuidado com as receitas caseiras, alerta o pediatra especialista em terapia intensiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Nivaldo de Souza, pai de João Pedro e Renata. Passar pasta de dente nas lesões ou até mesmo a pastinha de água com maisena pode piorar, e muito, a situação.
"O pediatra ou dermatologista precisa identificar corretamente o problema e indicar o procedimento adequado. Para aliviar o incômodo enquanto a consulta não é possível, eu recomendo apenas uma compressa de água fria e mais nada", explica o chefe da UTI pediátrica do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, Eduardo Troster, pai de Ana e Ricardo.
Como tudo que diz respeito à saúde, prevenir ainda é o melhor a fazer e, conhecendo um pouco das causas e dos sintomas de cada problema, fica bem mais fácil agir rápido. E nunca é demais repetir: ligue sempre para o seu pediatra. Antes de arrumar as malas, leia nosso guia e siga em direção ao sol mais tranqüila. Se der algum pepino, você já saberá o que fazer.

Diarréia
O problema: maior causa de internações e consultas pediátricas no verão, a diarréia pode ser causada por viroses ou intoxicações alimentares.

Como evitar: evite que a criança coma alimentos de origem duvidosa, tipo cachorro- quente na praia; se não tiver certeza da qualidade da água do local, ferva-a antes de beber ou tome água mineral. Frituras e alimentos gordurosos devem ser consumidos em pouca quantidade. Fique atento para a higiene do local para evitar viroses e contaminação por bactérias.

Sintomas: idas repetidas ao banheiro com fezes moles ou aquosas.

O que fazer: dieta só com alimentos leves e re-hidratantes. As restrições não são muitas se a criança estiver bem do estômago. Ofereça bastante água e líquidos em geral: vale água de coco, sucos e picolés de fruta.

O que não fazer: por mais que pareça apenas uma indisposição passageira, a diarréia pode ser o sintoma de outros problemas mais sérios. Haja rápido. Ligue para o pediatra ou procure o prontosocorro local se o problema persistir.
Vômitos
O problema: se aparecer sem outros sintomas, o vômito é causado por intoxicações alimentares e indisposições estomacais.

Como evitar: a melhor maneira é não comer alimentos pouco confiáveis.

O que fazer: a criança pode não querer ou não conseguir se alimentar. Não force. O importante é tentar fazer com que ela beba líquidos e sucos para não desidratar. Ofereça em pequenas quantidades.Você pode optar por soluções re-hidratantes vendidas em farmácia, com sabores agradáveis para a criança – como gosto de frutas.

O que não fazer: não medicar a criança sem consultar um médico. Ligue para o pediatra caso os vômitos se prolonguem por mais de um ou dois dias e a criança não consiga se alimentar.
Intoxicação alimentar
O problema: com as altas temperaturas, é mais fácil que os alimentos se deteriorem e se contaminem por bactérias. Evite alimentos mal cozidos ou mal lavados.

Como evitar:
em geral, os alimentos que causam a intoxicação têm gosto, cheiro e aparência normais. Então, não confie naquela cheiradinha que a gente costuma dar na comida. Confira prazos de validade e respeite as indicações de armazenamento. A melhor maneira de evitar é não comer alimentos em locais de higiene duvidosa. Se for preparar as refeições, lave e cozinhe bem os alimentos. Ferva a água antes de beber (caso ela não seja confiável) ou compre água em garrafinha.

Sintomas: diarréias, vômitos e indisposição para se alimentar.

O que fazer: o quadro pode evoluir para desidratação. Ofereça líquidos em pequenas quantidades e alimentos de fácil digestão, como gelatina.

O que não fazer: não dê remédio antivômito por conta própria. A criança precisa eliminar o que causou o problema.
Insolação
O problema: falta de água no organismo e aumento da concentração de sais no sangue, causados pela exposição prolongada ao sol.
Como evitar: exposição ao sol antes das 10h e após as 16h, sempre com protetor solar com fator de proteção 30, no mínimo – mesmo em dias nublados. Prefira os guarda-sóis feitos de algodão ou lona, que chegam a barrar até 50% da radiação. Os de náilon permitem a passagem de até 95%. Tomar muito líquido também ajuda.

Sintomas: vermelhidão, dores e bolhas no corpo, tontura, dor de cabeça e febre.

O que fazer: hidratantes infantis podem ser usados para acalmar a pele, assim como compressas de água fria ou de chá de camomila frio, feito bem forte e sem açúcar. Ingestão de líquidos deve ser aumentada para acelerar a reversão do quadro. Casos mais graves podem precisar de soro na veia. Ministre um antitérmico e um analgésico a que a criança esteja habituada.

O que não fazer:
pasta de dente e pomadas sem receita podem piorar o quadro.
Desidratação
O problema: causada pela baixa ingestão de líquidos, combinada com mais suor ou vômitos e diarréia. Pode ser leve ou grave.

Como evitar:
é preciso controlar a exposição das crianças ao sol e insistir na ingestão de líquidos, em especial quando estiverem brincando ao ar livre.

Sintomas: urina muito escura, pouca freqüência ao urinar, cansaço e inapetência.

O que fazer: ofereça soluções de soro caseiro ou as de soros re-hidratantes vendidas em farmácia, sempre em pouca quantidade e em várias vezes, para evitar vômitos. Água-de-coco, picolé de frutas e gelatina podem ajudar também.

O que não fazer: refrigerantes, bebidas energéticas e suco de maçã, por exemplo, devem ser evitados por aumentarem os riscos de diarréia e vômitos.
Viroses
O problema: causadas por milhares de vírus diferentes, passam de pessoa para pessoa. Aglomerações, praia, piscinas cheias e banheiros públicos podem ser locais de contágio. O mais famoso é o rotavírus.

Como evitar:
atentar para as condições de higiene de cada local ajuda, mas é difícil evitar o contágio. Para o rotavírus existe vacina na rede pública, que deve ser aplicada aos 2 meses de idade e reforçada aos 4 meses. O calendário está disponível no site www.sbim.org.br.

Sintomas: similares aos da intoxicação alimentar, com vômitos e diarréias. A diferença entre um caso e outro só é feita com segurança pelo médico ou com exames.

O que fazer:
é preciso controlar os vômitos, às vezes com medicamentos indicados pelo pediatra, e a re-hidratação.

O que não fazer: não force a alimentação. Ofereça líquidos em pequenas quantidades.
Queimadura solar
O problema: exposição demasiada ao sol, sem proteção adequada, causa vermelhidão, ardor, bolhas e coceira. Aumenta a chance de a criança desenvolver câncer de pele no futuro, pois a pele nunca se regenera completamente. A cada nova queimadura, a lesão fica mais profunda. Não pode dar bobeira mesmo.

Como evitar:
sol somente antes das 10h e após as 16h; e protetor solar com fator 30 no mínimo, reaplicando a cada duas horas e depois que a criança entrar na água. Não confie que a sombra do guarda-sol protege totalmente a pele.

O que fazer: compressas de água fria com gaze aliviam a dor; analgésicos aos quais a criança esteja acostumada podem ser úteis para aliviar a dor.

O que não fazer: não deixe a criança no sol longos períodos e nunca use pasta de dente nem nenhum tipo de pomada sem a indicação do médico.
Brotoejas
O problema: a pele fica empipocada no calor por conta de uma inflamação ou um entupimento das glândulas sudoríparas, que trabalham muito mais nessa fase do ano.

Como evitar: controlando a exposição ao sol, aquele básico.

Sintomas:
a criança apresenta pele empipocada e coceira.

O que fazer: compressa de água gelada ou chá de camomila forte, sem açúcar e frio, são calmantes naturais para a pele.

O que não fazer: não passe pasta de dente, pomadas ou pastinha de maisena e água. Pode aliviar num primeiro momento, mas, depois, resseca a pele, e a maisena pode entupir os poros.
Micoses
O problema: as micoses são causadas por diversos tipos de fungos. Para proliferar, eles precisam de ambiente úmido e quente, bastante comum em praias e piscinas.

Como evitar: escolha praias e piscinas com boas condições de higiene. Evite deixar a criança o dia inteiro com o maiô molhado no corpo; cuide bem da higiene pessoal; e enxugue muito bem as dobrinhas.

Sintomas:
depende muito da micose, mas, em geral, aparece na pele ou nas unhas, na região da virilha e no meio dos dedos dos pés (frieiras). Algumas podem coçar.

O que fazer:
para tratar é preciso que o dermatologista identifique o tipo de micose e prescreva o medicamento adequado.

O que não fazer:
não misture as peças de roupa e uso pessoal da criança com micose com as de outras pessoas. Tampouco interrompa o tratamento no meio, mesmo que a micose pareça já ter sido controlada.
Bicho geográfico
O problema: é um parasita encontrado nas fezes de cães e que entra na pele das pessoas que têm contato direto com areia contaminada, principalmente. Junto com o parasita podem vir outras infecções de pele causadas pelas bactérias presentes nas fezes do animal.

Como evitar: é bem difícil evitar, já que o parasita é invisível. Não freqüentar praias onde se sabe que há cachorros é uma maneira de minimizar os riscos, bem como não sentar diretamente na areia.

Sintomas: o parasita faz um caminho na pele, parecendo um mapa. A lesão é avermelhada, dói e coça muito.

O que fazer: procure um dermatologista para que ele receite os medicamentos adequados. Em geral, o tratamento é feito com comprimidos e pomadas.

O que não fazer:
não fure a pele para tentar tirar o parasita. Além de não adiantar, machuca mais a área lesionada.
Conjuntivite
O problema: inflamação da membrana fina e transparente que recobre a maior parte da superfície do olho, a conjuntiva. É causada por bactérias, vírus, alergias ou reações químicas.

Como evitar:
no verão, a maior incidência é de conjuntivite alérgica. Evite o contato de protetores solares, hidratantes, xampus e da areia e da água salgada com os olhos.

Sintomas: olhos vermelhos, com muita secreção. As crianças maiores coçam.

O que fazer:
procure um oftalmologista se os sintomas não desaparecerem.

O que não fazer: nunca pingue colírio ou qualquer substância nos olhos sem prescrição médica – pode piorar a situação.

Fonte: Revista: Pais & Filhos

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